quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Um centauro no Jardim - Moacyr Scliar


Editora: Companhia das Letras (Companhia de Bolso)
Autor: Moacyr Scliar
Ano: 2004
Número de páginas: 240
Sempre nos surpreendemos quando paramos para pensar o quanto nos assemelhamos aos animais. Na verdade, todo homem é centauro, metade homem, metade animal. Por vezes essa metade controla nossas ações sem que ao menos nos demos conta. Mas será possível nos desvincularmos completamente de nossa parte selvagem? O que restará de nós se o fizermos, já que ser humano significa, também, ser em parte animal?
 
Essa dentre outras perguntas que muitas vezes nos fazemos ao longo da vida são ilustradas de uma maneira bela e alegórica na obra de Moacyr Scliar, autor contemporâneo brasileiro onde ele narra a história de um jovem centauro que tenta ao longo da vida saber porque nasceu diferente de outras pessoas e por isso não consegue viver como os outros em sociedade:
No interior do Rio Grande do Sul, na pacata família Tratskovsky, nasce um centauro: um ser metade homem, metade cavalo. Seu nome é Guedali, quarto filho de um casal de imigrantes judeus russos. A partir desse evento fantástico, Moacyr Scliar constrói um romance que se situa entre a fábula e o realismo, evidenciando a dualidade da vida em sociedade, em que é preciso harmonizar individualismo e coletividade. A figura do centauro também ilustra a divisão étnica e religiosa dos judeus, um povo perseguido por sua singularidade.
Guedali cresce solitário, excluído da sociedade, e o isolamento o leva a cultivar o hábito da leitura. Inteligente e culto, é ele quem conduz a narrativa, feita a partir do dia de seu 38° aniversário, comemorado entre amigos num restaurante de São Paulo.
O centauro rememora sua vida desde o nascimento em Quatro Irmãos, passando pela juventude em Porto Alegre, onde se casa com Tita - também centaura -, até chegar ao Marrocos.
O livro traz na sua simplicidade narrativa aquele cheirinho familiar de “lar” que só os autores brasileiros conseguem nos proporcionar. Eu sempre tenho crises de nostalgia quando leio um livro brasileiro porque por vezes só realmente olhamos para nosso país quando o “lemos”.
Guedali, nosso centauro, narrará a história da sua vida nos contando o peso que a diferença de entre ser judeu (religião compartilhada pelo autor) e ainda por cima centauro para um garoto que nasceu no período entre Guerras, de 1935, onde a nuvem do anti-semitismo já começava a pairar sobre o mundo.
A construção psicológica desse personagem em especial é bem sólida, mostrando-nos sua visão única de ver o mundo e sua religião que somente um garoto autodidata sem qualquer contato com o mundo exterior poderia ter. Uma visão tão pura que chega a ser cômica em algumas ocasiões.
Os outros personagens são bem “cotidianos” e não tão explorados psicologicamente quanto Guedali, até porque são apresentados do ponto de vista apenas do protagonista. Mas, mesmo assim não nos deixam de surpreender, porque em alguns momentos tive a impressão que a roda de amigos que o centauro irá reunir durante a obra, bem como sua esposa, representam personificações de ideais (socialistas, libertários, etc).
Fazendo um balanço da obra posso dizer que é de leitura fácil, mas que faz refletir. Um livro para ser pensado (meus preferidos!) que é temperado com um leve toque de ironia, quase imperceptível.
Recomendaria com toda a certeza.
Nota * * * * * (ótimo)

4 comentários:

Marina Risther Razzo disse...

Moacyr Scliar me conquistou no momento em que li "O Exército de um Homem Só". Ele consegue falar, de forma simples, de temas que nos levam a refletir. Acredito que ele quis criar essa história, do Centauro, como forma de falar do individualismo, e principalmente das dificuldades de ser judeu na época da Guerra. Um livro aparentemente bobinho, mas com um conteúdo precioso. Scliar e suas obras magníficas. A primeira jóia que descobrimos no Clube do livro..

Logo pretendo ler esse ai, recomendo tbm "o exercito de um homem só", onde ele faz uma crítica do socialismo através de um homem idealista e maluco.

Nádia Godoy disse...

O livro é ótimo!

As primeiras páginas são levemente cansativas por ser o início da narrativa mas depois ela deslancha e não se consegue parar.
O melhor do lviro são todos os jogos de metáforas, alusões e ideais que o autor esconde na obra.
A sua resenha ficou ótima Pah! Objetiva e clara, de um forma que não consigo fazer ;)

Anônimo disse...

Ótima dica, gostei muito da sua resenha, não conhecia o título! ;D
Beijos, Mila ♥

@Camilla_Leitte
http://sonhosentrepontinhos.wordpress.com

seanluis disse...

sem querer puxar o saco da Paulinha hsahahshsahsa mas ela tem um ótimo gosto pra livros já tinha reparado outro dia, vou ler esse , to querendo ler alguma coisa que não seja manual de instrução HAHSHAHASHA
bjos paulinha e a galera do blog

www.voandopelosom.blogspot.com

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