quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tempo de Matar - John Grisham


  • Editora: Rocco
  • Autor: JOHN GRISHAM
  • Ano: 1988
  • Número de páginas: 574 
Sinopse: Pena de morte. Até que ponto se é contra? Até que ponto se é a favor? Se dois drogados estupram, torturam e tentam matar uma menina de 10 anos, qual a pena que deveriam ter? E se um pai, chocado com todas estas barbaridades cometidas contra a filha, resolve fazer justiça com as próprias mãos, o que ele merece? Pelas leis do Mississípi, Estados Unidos, 20 anos de prisão para os primeiros e a pena de morte para o segundo.
Tentando reverter este paradoxo legal, o advogado Jake Brigance enfrenta mais um problema para defender seu cliente, Carl Hailey, preso depois de matar os dois estupradores: o racismo. A opinião pública fica dividida entre os que apóiam a atitude de Hailey e os que não admitem que um negro acabe com um branco.
A Ku-klux-klan resolve comprar a briga. Os jurados e o juiz são ameçados. O advogado de defesa tem sua casa incendiada, o marido de sua secretária é espancado e morre, sua estagiária sofre um atentado e seu segurança fica paralítico por causa de um tiro destinado a ele. E, pior, todos dizem que a causa é perdida.
Conhecido como o número um do legal thriller, John Grisham começou a escrever Tempo de Matar três anos depois de se formar como advogado na Ole Mississipi Law School. O próprio autor reconhece que é seu livro mais autobiográfico. Ele foi tentado a transpor para um romance o clima dos tribunais depois que defendeu um homem que cometeu um crime semelhante ao de Carl Hailey. Grisham ficou obcecado com a idéia de vingança. "Por um breve momento, desejei ferozmente matar o estuprador, ser o pai daquela menina, fazer justiça. Havia uma história naquele caso", afirma. 


Como a estudante de Direito que sou, sempre me atraí por boas histórias de tribunais. Já havia ouvido falar muito em John Grisham mas por algum motivo desconhecido eu nunca peguei nada dele pra ler. Minha mãe, que também é grande fã de histórias que envolvem julgamentos, já havia me falado de um filme chamado "Tempo de Matar" (Time do Kill, 1996), com o Matthew McConaughey e Sandra Bullock. Dizia que era um ótimo filme, um dos melhores do gênero. Até então eu não fazia nem ideia de que ele tinha sido baseado em um livro, muito menos em um escrito por Grisham. E eis que na mesma semana de minha descoberta, lá estava o livro, bonitinho na prateleira da biblioteca. 
E livro potencialmente bom na prateleira da biblioteca é = Marina vai ler!

John Grisham não precisou de mais do que 50 páginas pra me mostrar por que ele é o melhor do gênero e um dos autores mais vendidos dos EUA. Desde o ritmo da narrativa até os personagens muito bem construídos, Tempo de Matar é sem dúvida o melhor livro de ficção sobre tribunais que eu já li.  

 A grande estrela da história é Jake Brigance, o advogado que "pegou a bomba" de defender um negro acusado de matar dois brancos. Este negro, Carl Lee Hailey, matou os dois homens que estupraram e quase mataram sua filhinha de 10 anos, Tonya.

E ai é que pousa a dúvida: até que ponto é moralmente condenável um pai que mata os estupradores da filha? Pra muitos ele foi considerado um herói. Porém, juridicamente falando, não é permitido se fazer justiça com as próprias mãos, portanto Carl Lee Hailey teve que ser indiciado podendo, caso fosse considerado um homicídio doloso (com intenção de matar), ser condenado à pena de morte na câmara de gás. 

A difícil tarefa de Jake é provar que ele não estava mentalmente são no momento do crime.  Mas Carl Lee não apenas estava consciente do que estava fazendo como também planejou a execução dos estupradores com 6 dias de antecedência. 

Mas a maior barreira para Jake e seu cliente era, sem menor dúvida, o preconceito racial. Numa cidade com maioria branca, muitos condenavam Carl Lee pelo simples fato dele ser um negro que matou homens brancos. Quando a Ku-Klux-Klan resolve entrar na história e ameaçar todos os envolvidos no caso, tudo complica ainda mais. 

Os personagens do livro são ótimos, mesmo aqueles não tão simpáticos como o promotor Rufus Buckley, a "pedra no sapato" de Jake. Meu prêmio de personagem favorito vai pra Lucien Willbanks, um advogado que perdeu a licença para exercer a profissão e que só sabe beber e dar pitacos nos casos de Jake. Simplesmente o adorei, mesmo sua participação na história não sendo tão grande.

Ellen Roarke, estudante de Direito muitíssimo inteligente e com uma eficiência fora do comum, que se torna assistente de Jake, também é ótima, apenas não gostei muito pois em alguns momentos dá sutilmente em cima dele, que é muito bem casado com Carla e fielmente não cede ao charme da bela estudante. 

Há também Harry Rex, advogado e muito amigo de Jake, o xerife Ozzie Walls, que é negro e apesar de ser testemunha de acusação de Carl Lee, é seu grande amigo.

O livro levanta muitas questões, como o racismo, a violência, a pena de morte, a corrupção no meio jurídico. Mas em minha opinião a grande questão é, afinal, o quão a moral e a justiça são próximas? Se é que é possível existir essa proximidade. Da forma como o crime foi cometido, Carl Lee deveria ser condenado, pois infringiu a lei, independente dos motivos que o levaram a fazê-lo. Porém, ao mesmo tempo, ele tomou uma atitude que provavelmente muitos pais fariam igual.Complicado, não é? É o tipo de livro no qual você se vê obrigado a refletir sobre o que faria se estivesse em seu lugar, ou, se você estivesse no júri, o consideraria culpado ou inocente? E se ao invés de um negro que matou dois brancos, fosse o contrário - um branco matando dois negros - o que pensaria sobre isso?

Independente de qualquer questão, o livro é de leitura fácil e gostosa, e pra quem se interessa por Direito, é também uma forma de aprender um pouco sobre o sistema jurídico americano, pois Grisham explica muito bem como funcionam as coisas por lá. E pra aqueles que entendem sobre o Direito Brasileiro, é interessante pra fazer uma comparação entre os dois sistemas. E mesmo pra quem não gosta do tema, o livro não deixa de ser muito bom. 



Até a próxima :)
 

7 comentários:

Alex Zigar disse...

Eu assisti ao filme, mas já faz algum tempo. Sobre o livro, parece ser um pouco melhor, já que explica mais detalhe do meio jurídico.

Mais uma vez parabéns pela ótima resenha, Marina.

Abraços.

Paula Montanari disse...

Nunca li o livro, nem vi o filme..mas com certeza verei!
Ótimo post!

Matheus disse...

Olá!
Não lí toda resenha porque quero ler o livro :P
Acabei de comprar no Submarino por 9,90 :D
Você já leu os novos dele? (The confession, Theodore boone, etc)

Alice disse...

Só não concordo com a parte da Ellen dar em cima de Jake... não acho que seja bem por aí. Aliás, o Jake também tinha várias ideias com relação à moça. Só achei que o fato deles não terem um caso foi bom porque o foco do livro era outro. Afinal, é indiscutível que a Ellen é uma personagem muito mais interessante que a Carla.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Meu nome é Joselaine, sou casada, mãe, tenho 30 anos, Bacharel em Direito pela UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina).
Assisti o filme e sinceramente não posso deixar de me interessar pelo livro, já que alguns filmes apresentam apenas terça parte do que é realmente expresso na obra. É um excelente filme para os amantes de Direito Penal, e sinceramente faz você refletir se realmente ama a Advocacia, se vale a pena seguir com determinados casos enfrentando tudo e a todos, por simplesmente acreditar naquele caso.
O filme é maravilhoso, e a quantidade de atores conhecidos, Ba, excelente. Recomendo!

Sabrina Pinheiro disse...

Gostei muito da sua reflexão. Você tem bom gosto pelos livros. Parabéns pela resenha!

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