- Editora: Record
- Autor: BERNARD CORNWELL
- Ano: 1997
- Número de páginas: 529
Sinopse: Último volume da trilogia "As crônicas de Artur," do escritor inglês Bernard Cornwell sobre o lendário guerreiro Artur, que passou para a história com o título de rei, embora nunca tenha usado uma coroa. O autor desenha um Artur familiar e desconhecido. Um dos inúmeros filhos ilegítimos do rei Uther Pendragon, sem o menor interesse pelo poder, sua única ambição é manter o juramento ao rei de direito, Mordred, e ajudá-lo a lutar pela paz. Ao mesmo tempo, o autor nos revela locais conhecidos e personagens esperados: o mago Merlin, a bela Guinevere, Lancelot - aqui retratado como um covarde - e a lendária Távola Redonda.
Chegar ao fim de uma saga - especialmente uma tão brilhante - é no mínimo digno de algumas lágrimas. E confesso que chorei enquanto lia as últimas páginas de "Excalibur", terceiro e último volume das "Crônicas de Artur", de Bernard Cornwell. Chorei não porque o final seja triste ou algo do tipo, mas porque quando uma história possui personagens tão apaixonantes é terrivelmente difícil dizer adeus.
Uma história onde somos capazes de amar um personagem em algum momento e odiar no outro. Onde choramos, sorrimos, sentimos todas as emoções possíveis. Uma viagem pela antiga Britânia de guerreiros, druidas, bardos, saxões e guerras, onde possuimos o melhor guia que poderíamos ter: lorde Derfel Cadarn. Não me canso de rasgar elogios a ele. Um marido e amigo fiel, um guerreiro destemido, um homem de caráter. Um dos poucos que ficou ao lado de Artur até o fim.
Bernard Cornwell desmitifica um dos heróis mais conhecidos de todos os tempos. Sai aquela imagem do rei Artur perfeito pra dar lugar a um homem comum, que nunca foi rei de verdade, que cometeu erros incontáveis, mas que apesar de tudo era extremamente bondoso e cujo maior sonho era a paz na Britânia e poder viver com sua amada numa casinha confortável. Um homem que amou acima de qualquer coisa, que sempre acreditou no melhor das pessoas e que foi até o fim pra cumprir os juramentos que fez. ("Se alguém quiser viver para sempre neste mundo parece uma boa ideia virar inimigo de Artur." Merlin, pág. 22)
Excalibur poderia ser dividido em duas partes: a guerra entre os britânicos e os saxões, e a guerra entre os próprios britânicos. Ou seja, a maior parte do livro é de conflitos. Muitos (ou seria melhor dizer quase todos?) personagens morrem, dentre eles alguns que torcia pra que morressem e alguns onde senti uma tristeza profunda por partirem. Alguns se mostram traidores. Outros que nos outros livros não eram muito queridos acabam conquistando o leitor (como Guinevere por exemplo, que neste terceiro volume é extremamente importante e conseguiu ganhar minha simpatia). Tive algumas surpresas (como o que Nimuê fez) e algumas coisas já esperava (como o que Mordred fez).
("Os seus cristãos são rebeldes, o seu rei é um idiota aleijado e o seu líder se recusa a roubar o trono do idiota." - Merlim para Derfel, pág. 75)
Merlin e Nimuê tinham grandes planos para a Britânia. Eles acreditavam que ao tornar possível a "volta" dos Deuses, todos os problemas acabariam. Mas para isso eles precisariam cometer alguns sacrifícios. Sacrifícios estes, no mínimo absurdos, que o diga Artur. E é justamente por impedir os rituais que hipoteticamente trariam os Deuses pra Britânia, que Artur incitou a ira de Nimuê. Se no segundo volume da saga "O Inimigo de Deus", Artur foi perseguido por cristãos, desta vez a causa de sua maior dor de cabeça foram os pagãos. ("É estranho, ao rever o passado, lembrar como Artur era odiado na época. No verão tinha partido as esperanças dos cristãos, e agora, no fim do outono, havia destruído os sonhos pagãos. Como sempre, ele parecia surpreso com a impopularidade". - Derfel, pág. 131)
Titio Cornwell sabe o que faz. Ele não apenas inventou uma história fantasiosa e sem nenhum fiapo de verdade, pelo contrário, ele pegou o pouco do que já foi comprovado e escreveu provavelmente uma das histórias mais fiéis a verdade a respeito de Artur. Trouxe de volta personagens que ficaram esquecidos nos últimos livros escritos sobre o tema (como o próprio Derfel) e derrubou o mito em torno de alguns que sempre foram descritos como maravilhosos (como Lancelot). Derrubou também o mito a respeito da chamada "Távola Redonda", que de acordo com o livro, começou a ser chamada assim por algumas pessoas e Artur particularmente detestava esse "apelido".
Pra quem gosta de livros sobre guerras, fantasias ou coisas do gênero, coloque "As Crônicas de Artur" na sua lista de leitura obrigatória. Pra alguns talvez o tamanho dos livros assuste um pouco (todos possuem mais de 500 páginas), mas a linguagem é fácil, o ritmo é excelente e os diálogos são daqueles que nos prendem. Confesso que algumas partes dos livros são um tantinho entediantes, mas elas são minorias, na grande parte você vai devorá-lo.
"As Crônicas de Artur" é uma história de grandes homens e grandes mulheres. É também história de grandes vilões e grandes guerras, mas acima de qualquer coisa é uma história de amizade. É este laço indestrutível que torna o livro tão maravilhosamente cativante.
Dos três volumes que compõem a saga, o melhor é sem dúvida O Inimigo de Deus, porém, provavelmente por ser o último, Excalibur é o mais emocionante.
(- Meu querido senhor - disse eu.
Não me referia a Sansum, no entanto. Falava com Artur. E, chorando, o braço em volta de Ceinwyn, vi o barco pálido ser engolido pela cintilante neblina prateada.
E foi assim que o meu senhor partiu.
E nunca mais ninguém o viu desde então. - Derfel, pág. 525)
Até a próxima :)