quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Silmarillion - J.R.R Tolkien


  • Editora: WMF
  • Autor: J.R.R. TOLKIEN
  • Ano: 1977
  • Número de páginas: 480 
Sinopse: O Silmarillion, relata acontecimentos de uma época muito anterior ao final da Terceira Era, quando ocorreram os grandes eventos narrados em O Senhor dos Anéis. São lendas derivadas de um passado remoto, ligadas às Silmarils, três gemas perfeitas criadas por Fëanor, o mais talentoso dos elfos. Tolkien trabalhou nesses textos ao longo de toda a sua vida, tornando-os veículo e registro de suas reflexões mais profundas. 

Desde que J.R.R Tolkien se tornou absurdamente conhecido graças aos filmes baseados na sua obra "O Senhor dos Anéis", boa parte do mundo leu seus livros. Até pouco tempo atrás eu, vergonhosamente, nunca havia lido. Demorei anos e anos pra me render aos encantos do maravilhoso e mágico mundo de Tolkien.  E logo para iniciar minha viagem pelo seu mundo, escolhi o que grande parte das pessoas chama de 'o seu livro mais complicado e difícil de ler', "O Silmarillion". Motivo de minha escolha foi simples: vamos ler a história pelo começo, certo?

O Silmarillion é como uma introdução pra todas as outras obras de Tolkien. É quase que um manual pra você entender todo o mundo que ele criou. E sim, foi definitivamente um mundo, uma lenda, um folclore. Tolkien não se limitou apenas à escrever um livro. Ele revolucionou o mundo da fantasia nos presenteando com obras tão ricas de detalhes que às vezes é até possível acreditar que tudo que é narrado no livro realmente existe. 

O livro começa narrando como tudo surgiu. Ilúvatar, que seria como um Deus supremo é nosso ponto de partida pra essa viagem fantástica. Eru Ilúvatar criou os Valar, ou também chamados Ainur, que eram espíritos. Harmoniosamente todos os Valar cantavam juntos, porém um deles, Melkor provocou uma dissonância, pois ele queria fazer uma música própria. Daí pra frente Melkor se destacou como o grande vilão, também chamado de Morgoth (Sauron, o vilão de 'O Senhor dos Anéis' era o mais fiel seguidor de Morgoth).
Somos apresentados aos elfos, aos homens, aos anões, orcs, trolls e a todas as criaturas do mundo de Tolkien. Boa parte do livro é de guerras. Muitas histórias são narradas, e a que mais gostei foi a  'de Beren e Luthién', capítulo 19 do livro, que narra o amor dos dois. E olha que eu não sou nem um pouco chegada em histórias de amor, porém essa realmente me encantou. E ao final, é claro, é explicado como surgiram os Anéis do Poder.

Confesso que não é dos mais fáceis de ler. São muitos nomes, muitos lugares que, se não fosse pelo glossário no final, dificilmente seria possível entender alguma coisa. Independente disso, O Silmarillion é definitivamente uma obra única, encantadora e poética.

Pra quem gosta de fantasia e principalmente pros que gostaram de 'O Senhor dos Anéis', O Silmarillion é leitura mais que obrigatória. Pode ser um livro cansativo às vezes, mas você não vai se arrepender. Desculpem não ter descrito muitos detalhes,  mas além de ter lido há alguns meses e não me recordar extremamente bem de tudo, o livro possui detalhes DEMAIS e fica difícil escolher apenas alguns pra falar.

Agora estou lendo "O Hobbit" e estou adorando. Em breve comentários sobre ele aqui também. 

Até a próxima ;)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Dia do Curinga - Jostein Gaarder

  • Editora: Companhia das Letras
  • Autor: JOSTEIN GAARDER
  • Ano: 1996
  • Número de páginas: 384

    Sinose: "Você já pensou que num baralho existem muitas cartas de copas e de ouros, outras tantas de espadas e de paus, mas que existe apenas um curinga?", pergunta à sua mãe certa vez a jovem protagonista de O mundo de Sofia.
    Esse é o ponto de partida deste outro livro de Jostein Gaarder, a história de um garoto chamado Hans-Thomas e seu pai, que cruzam a Europa, da Noruega à Grécia, à procura da mulher que os deixou oito anos antes. No meio da viagem, um livro misterioso desencadeia uma narrativa paralela, em que mitos gregos, maldições de família, náufragos e cartas de baralho que ganham vida transformam a viagem de Hans-Thomas numa autêntica iniciação à busca do conhecimento - ou à filosofia.
    O Dia do Curinga
    é a história de muitas viagens fantásticas que se entrelaçam numa viagem única e ainda mais fantástica - e que só pode ser feita por um grande aventureiro: o leitor.
    Título Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ 1996, categoria tradução/jovem

    Existem livros que são particularmente cativantes, do tipo que você nunca vai esquecer. Do famoso autor de "O Mundo de Sofia", Jostein Gaarder, o livro "O Dia do Curinga" é daqueles que você definitivamente se apaixona. Aquele que você põe na sua mesinha de cabeceira e diz: 'esse é especial!'.

    Somos transportados por uma incrível viagem juntamente com pai e filho. Uma viagem recheada de momentos de reflexão, de lugares diferentes e de muitas curiosidades. Ambos estavam indo à Grécia em busca de Anita, mãe de Hans-Thomas, que havia os deixado 8 anos atrás para "se encontrar" e que estava trabalhando como modelo na capital grega. Uma história simples, aparentemente. E é sim, muito simples, mas ao mesmo tempo tão deliciosamente complexa que consegue nos prender tal qual um super suspense cheio de reviravoltas faria.

    Em meio a viagem de Hans-Thomas e pai somos transportados pra um outro mundo, graças a um livrinho minúsculo que o garoto ganhou de um padeiro em Dorf. Nesse livrinho, que pra ler ele necessitava de uma lupa que ganhou de um misterioso anão num posto de gasolina, Hans-Thomas descobre uma história que foi passada por gerações pra jamais cair no esquecimento.

    Nessa histórinha conhecemos cartas de baralhos que se tornam anões, bébidas púrpuras que contém diversos gostos e sensações e um Curinga inconformado em não ter explicações sobre sua existência. Aos poucos, Hans-Thomas começa a perceber certa ligação entre o que é narrado no livrinho e sua própria vida.

    Juntamente com seu pai ele passa toda a viagem questionando o mundo, a vida, as pessoas e as crenças. E é justamente por questionar tudo, que ambos se consideram 'Curingas'. O Curinga é aquele diferente, aquele que não se conforma com tudo que lhe é dito, aquele que vive em busca de aut-conhecimento.

    ("Um curinga é um pequeno bobo da corte; uma figura diferente de todas as outras. Não é nem de paus, nem de ouros, nem de copas e nem de espadas. Não é oito, nem nove, nem rei, nem valete. É um caso à parte; uma carta sem relação com as outras. Ele está no mesmo monte das outras cartas, mas aquele não é seu lugar. Por isso pode ser separado do monte sem que ninguém sinta falta dele." - pág 76)

    "O Dia do Curinga"
    nos faz refletir sobre nossa própria existência. Nos faz parar pra pensar no valor de nossas vidas, no quão viver pode ser comparado a uma incrível aventura e no quanto as pessoas ignoram tudo isso. Pra grande maioria é muito mais divertido imaginar criaturas sobrenaturais, vidas em outros planetas, do que se dar conta de como nosso próprio mundo é maravilhoso e absurdamente curioso. Tal qual as cartas de baralho que se transformam em anões, do livrinho que Hans-Thomas estava lendo, muitos seres humanos apenas se conformam com sua existência, sem querer explorar a origem das coisas. Preferem viver no escuro. E o Curinga se diferencia por gostar de explorar e descobrir. Um Curinga é como um filósofo, aquele que busca o conhecimento.

    ("Vivemos nossas vidas num incrível mundo de aventuras, pensei. Apesar disso, a grande maioria das pessoas considera tudo 'normal'. Em compensação, vivem em busca de algo fora do normal: anjos ou então marcianos. E isso se explica pelo simples fato de que elas não consideram um enigma o mundo em que vivem. Para mim a coisa era completamente diferente. Para mim, o mundo era um sonho muito estranho, e eu vivia em busca de uma explicação racional qualquer para esse sonho. - Hans-Thomas, pág. 164)

    Pra muitos o tema "filosofia" pode ser considerado chato, mas o livro é narrado de uma forma tão perfeita que é impossível considerá-lo chato ou entediante. Muitos diálogos são ricos em informação e tudo de forma muito sútil e gostosa. Sem explicações longas e maçantes, pelo contrário, tudo é narrado com simples diálogos entre pai e filho buscando respostas pra vida.

    Se você não leu essa obra perfeita, trate JÁ de colocá-la na sua listinha de leitura obrigatória. Jostein Gaarder nos faz mergulhar numa história onde ao mesmo tempo que você não vê a hora de chegar ao fim, você também se sente triste por saber que logo aquela viagem acabará. Não li "O Mundo de Sofia" (e me sinto um ET por isso), mas como o autor me cativou profundamente, tratarei de lê-lo o mais breve possível.

    Um livro que nos ensina a
    buscar sempre o conhecimento, viver intensamente e a amar cada momento acima de tudo, pois cada um é único.
    Eu me considero um Curinga, e você? ;)
    ("Mas tenho certeza absoluta de que um curinga continua perambulando pelo mundo. Ele se encarregará de não permitir que o mundo se acomode. A qualquer momento, e em qualquer parte, pode aparecer um pequeno bobo da corte usando um barrete e uma roupa cheia de guizos tintilantes. Ele nos olhará nos olhos e nos perguntará: 'Quem somos? De onde viemos?'" - pág. 378)

    À todos que comentam e lêem o blog, muito obrigada, de verdade. Sem vocês dificilmente, em meio à correria que tem sido minha vida, eu teria ânimo pra continuar postando. Desculpem se os posts não estão muito frequentes, mas estou em meio a minha semana infernal (semana de provas da faculdade). Pra arrumar tempinho pra ler estou tendo que fazer malabarismos. Mas assim que toda essa doidera passar, prometo tentar postar com mais frequência. Obrigada e até o próximo livro :)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Excalibur - Crônicas de Artur Vol. 3 - Bernard Cornwell


  • Editora: Record
  • Autor: BERNARD CORNWELL
  • Ano: 1997
  • Número de páginas: 529 
Sinopse: Último volume da trilogia "As crônicas de Artur," do escritor inglês Bernard Cornwell sobre o lendário guerreiro Artur, que passou para a história com o título de rei, embora nunca tenha usado uma coroa. O autor desenha um Artur familiar e desconhecido. Um dos inúmeros filhos ilegítimos do rei Uther Pendragon, sem o menor interesse pelo poder, sua única ambição é manter o juramento ao rei de direito, Mordred, e ajudá-lo a lutar pela paz. Ao mesmo tempo, o autor nos revela locais conhecidos e personagens esperados: o mago Merlin, a bela Guinevere, Lancelot - aqui retratado como um covarde - e a lendária Távola Redonda. 

(Para entender melhor o post a seguir leia: O Inimigo de Deus e O Rei do Inverno.) 

 Chegar ao fim de uma saga - especialmente uma tão brilhante - é no mínimo digno de algumas lágrimas. E confesso que chorei enquanto lia as últimas páginas de "Excalibur", terceiro e último volume das "Crônicas de Artur", de Bernard Cornwell. Chorei não porque o final seja triste ou algo do tipo, mas porque quando uma história possui personagens tão apaixonantes é terrivelmente difícil dizer adeus.

Uma história onde somos capazes de amar um personagem em algum momento e odiar no outro. Onde choramos, sorrimos, sentimos todas as emoções possíveis. Uma viagem pela antiga Britânia de guerreiros, druidas, bardos, saxões e guerras, onde possuimos o melhor guia que poderíamos ter: lorde Derfel Cadarn. Não me canso de rasgar elogios a ele. Um marido e amigo fiel, um guerreiro destemido, um homem de caráter. Um dos poucos que ficou ao lado de Artur até o fim. 

Bernard Cornwell desmitifica um dos heróis mais conhecidos de todos os tempos. Sai aquela imagem do rei Artur perfeito pra dar lugar a um homem comum, que nunca foi rei de verdade, que cometeu erros incontáveis, mas que apesar de tudo era extremamente bondoso e cujo maior sonho era a paz na Britânia e poder viver com sua amada numa casinha confortável.  Um homem que amou acima de qualquer coisa, que sempre acreditou no melhor das pessoas e que foi até o fim pra cumprir os juramentos que fez. ("Se alguém quiser viver para sempre neste mundo parece uma boa ideia virar inimigo de Artur." Merlin, pág. 22)

Excalibur poderia ser dividido em duas partes: a guerra entre os britânicos e os saxões, e a guerra entre os próprios britânicos. Ou seja, a maior parte do livro é de conflitos. Muitos (ou seria melhor dizer quase todos?) personagens morrem, dentre eles alguns que torcia pra que morressem e alguns onde senti uma tristeza profunda por partirem. Alguns se mostram traidores. Outros que nos outros livros não eram muito queridos acabam conquistando o leitor (como Guinevere por exemplo, que neste terceiro volume é extremamente importante e conseguiu ganhar minha simpatia). Tive algumas surpresas (como o que Nimuê fez) e algumas coisas já esperava (como o que Mordred fez).

("Os seus cristãos são rebeldes, o seu rei é um idiota aleijado e o seu líder se recusa a roubar o trono do idiota." - Merlim para Derfel, pág. 75)

Merlin
e Nimuê tinham grandes planos para a Britânia. Eles acreditavam que ao tornar possível a "volta" dos Deuses, todos os problemas acabariam. Mas para isso eles precisariam cometer alguns sacrifícios. Sacrifícios estes, no mínimo absurdos, que o diga Artur. E é justamente por impedir os rituais que hipoteticamente trariam os Deuses pra Britânia, que Artur incitou a ira de Nimuê. Se no segundo volume da saga "O Inimigo de Deus", Artur foi perseguido por cristãos, desta vez a causa de sua maior dor de cabeça foram os pagãos. ("É estranho, ao rever o passado, lembrar como Artur era odiado na época. No verão tinha partido as esperanças dos cristãos, e agora, no fim do outono, havia destruído os sonhos pagãos. Como sempre, ele parecia surpreso com a impopularidade". - Derfel, pág. 131)

Titio Cornwell sabe o que faz. Ele não apenas inventou uma história fantasiosa e sem nenhum fiapo de verdade, pelo contrário, ele pegou o pouco do que já foi comprovado e escreveu provavelmente uma das histórias mais fiéis a verdade a respeito de Artur. Trouxe de volta personagens que ficaram esquecidos nos últimos livros escritos sobre o tema (como o próprio Derfel) e derrubou o mito em torno de alguns que sempre foram descritos como maravilhosos (como Lancelot). Derrubou também o mito a respeito da chamada "Távola Redonda", que de acordo com o livro, começou a ser chamada assim por algumas pessoas e Artur particularmente detestava esse "apelido".

Pra quem gosta de livros sobre guerras, fantasias ou coisas do gênero, coloque "As Crônicas de Artur" na sua lista de leitura obrigatória. Pra alguns talvez o tamanho dos livros assuste um pouco (todos possuem mais de 500 páginas), mas a linguagem é fácil, o ritmo é excelente e os diálogos são daqueles que nos prendem. Confesso que algumas partes dos livros são um tantinho entediantes, mas elas são minorias, na grande parte você vai devorá-lo.

"As Crônicas de Artur" é uma história de grandes homens e grandes mulheres. É também história de grandes vilões e grandes guerras, mas acima de qualquer coisa é uma história de amizade. É este laço indestrutível que torna o livro tão maravilhosamente cativante. 
Dos três volumes que compõem a saga, o melhor é sem dúvida O Inimigo de Deus, porém, provavelmente por ser o último, Excalibur é o mais emocionante. 

(- Meu querido senhor - disse eu.
Não me referia a Sansum, no entanto. Falava com Artur. E, chorando, o braço em volta de Ceinwyn, vi o barco pálido ser engolido pela cintilante neblina prateada.
E foi assim que o meu senhor partiu.
E nunca mais ninguém o viu desde então. - Derfel, pág. 525)

Até a próxima :)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A opinião alheia incomoda muita gente...

É impressionante como o respeito é algo que tem se esvaído cada vez mais nos dias atuais. Levantar a bandeira da "livre-expressão" é tão belo não é? Mas no fundo não passa de uma grande hipocrisia. Num mundo "evoluído", como o nosso supostamente é, o ser humano deveria ser pelo menos capaz de ter respeito e consideração pela opinião alheia. Mas muito diferentemente disso, estamos num mundo onde ter personalidade e se expressar é quase um pecado e qualquer pessoa que mostre tudo aquilo que pensa é "apedrejado" como se estivesse fazendo algum mal à sociedade.

Por que não encarar as tão diferentes opiniões como uma forma de crescimento pessoal? Ninguém jamais vai pensar igual a você em tudo, e ao invés de criticar, por que não tentar aprender com isso?

Eu sigo um código: política, religião e futebol eu NÃO DISCUTO! Mas acho toda e qualquer opinião acerca desses e outros assuntos absolutamente válida, afinal, não sejamos presunçosos a ponto de nos acharmos senhores da razão. Prefiro calar ao ouvir um assunto desses pois causar polêmica não é comigo, até porque é impressionante o quão não importa a quantia de argumentos você tenha, sempre haverá quem, sem argumento algum, age como se estivesse com a absoluta razão. Em primeiro lugar: não existe razão absoluta quando se trata do que pensamos. Em segundo lugar: quer defender um ponto de vista? Apresente argumentos e independente de minha opinião ser contrária à sua, eu com certeza te respeitarei.

Mas sempre haverá aqueles que preferem ignorar ou criticar a opinião alheia. Pra aqueles que são assim, então, sejam felizes vivendo como cavalos que apenas olham pra frente.

O conhecimento e a informação são tudo, não deixem que sua mente se torne pequena. O mundo em geral necessita sempre expandir, a começar pelo pensamento humano ;)


(Desculpem fugir do assunto "livros", que é o maior intuito do blog, porém fatos recentes me compeliram a postar sobre isso...)
 



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tempo de Matar - John Grisham


  • Editora: Rocco
  • Autor: JOHN GRISHAM
  • Ano: 1988
  • Número de páginas: 574 
Sinopse: Pena de morte. Até que ponto se é contra? Até que ponto se é a favor? Se dois drogados estupram, torturam e tentam matar uma menina de 10 anos, qual a pena que deveriam ter? E se um pai, chocado com todas estas barbaridades cometidas contra a filha, resolve fazer justiça com as próprias mãos, o que ele merece? Pelas leis do Mississípi, Estados Unidos, 20 anos de prisão para os primeiros e a pena de morte para o segundo.
Tentando reverter este paradoxo legal, o advogado Jake Brigance enfrenta mais um problema para defender seu cliente, Carl Hailey, preso depois de matar os dois estupradores: o racismo. A opinião pública fica dividida entre os que apóiam a atitude de Hailey e os que não admitem que um negro acabe com um branco.
A Ku-klux-klan resolve comprar a briga. Os jurados e o juiz são ameçados. O advogado de defesa tem sua casa incendiada, o marido de sua secretária é espancado e morre, sua estagiária sofre um atentado e seu segurança fica paralítico por causa de um tiro destinado a ele. E, pior, todos dizem que a causa é perdida.
Conhecido como o número um do legal thriller, John Grisham começou a escrever Tempo de Matar três anos depois de se formar como advogado na Ole Mississipi Law School. O próprio autor reconhece que é seu livro mais autobiográfico. Ele foi tentado a transpor para um romance o clima dos tribunais depois que defendeu um homem que cometeu um crime semelhante ao de Carl Hailey. Grisham ficou obcecado com a idéia de vingança. "Por um breve momento, desejei ferozmente matar o estuprador, ser o pai daquela menina, fazer justiça. Havia uma história naquele caso", afirma. 


Como a estudante de Direito que sou, sempre me atraí por boas histórias de tribunais. Já havia ouvido falar muito em John Grisham mas por algum motivo desconhecido eu nunca peguei nada dele pra ler. Minha mãe, que também é grande fã de histórias que envolvem julgamentos, já havia me falado de um filme chamado "Tempo de Matar" (Time do Kill, 1996), com o Matthew McConaughey e Sandra Bullock. Dizia que era um ótimo filme, um dos melhores do gênero. Até então eu não fazia nem ideia de que ele tinha sido baseado em um livro, muito menos em um escrito por Grisham. E eis que na mesma semana de minha descoberta, lá estava o livro, bonitinho na prateleira da biblioteca. 
E livro potencialmente bom na prateleira da biblioteca é = Marina vai ler!

John Grisham não precisou de mais do que 50 páginas pra me mostrar por que ele é o melhor do gênero e um dos autores mais vendidos dos EUA. Desde o ritmo da narrativa até os personagens muito bem construídos, Tempo de Matar é sem dúvida o melhor livro de ficção sobre tribunais que eu já li.  

 A grande estrela da história é Jake Brigance, o advogado que "pegou a bomba" de defender um negro acusado de matar dois brancos. Este negro, Carl Lee Hailey, matou os dois homens que estupraram e quase mataram sua filhinha de 10 anos, Tonya.

E ai é que pousa a dúvida: até que ponto é moralmente condenável um pai que mata os estupradores da filha? Pra muitos ele foi considerado um herói. Porém, juridicamente falando, não é permitido se fazer justiça com as próprias mãos, portanto Carl Lee Hailey teve que ser indiciado podendo, caso fosse considerado um homicídio doloso (com intenção de matar), ser condenado à pena de morte na câmara de gás. 

A difícil tarefa de Jake é provar que ele não estava mentalmente são no momento do crime.  Mas Carl Lee não apenas estava consciente do que estava fazendo como também planejou a execução dos estupradores com 6 dias de antecedência. 

Mas a maior barreira para Jake e seu cliente era, sem menor dúvida, o preconceito racial. Numa cidade com maioria branca, muitos condenavam Carl Lee pelo simples fato dele ser um negro que matou homens brancos. Quando a Ku-Klux-Klan resolve entrar na história e ameaçar todos os envolvidos no caso, tudo complica ainda mais. 

Os personagens do livro são ótimos, mesmo aqueles não tão simpáticos como o promotor Rufus Buckley, a "pedra no sapato" de Jake. Meu prêmio de personagem favorito vai pra Lucien Willbanks, um advogado que perdeu a licença para exercer a profissão e que só sabe beber e dar pitacos nos casos de Jake. Simplesmente o adorei, mesmo sua participação na história não sendo tão grande.

Ellen Roarke, estudante de Direito muitíssimo inteligente e com uma eficiência fora do comum, que se torna assistente de Jake, também é ótima, apenas não gostei muito pois em alguns momentos dá sutilmente em cima dele, que é muito bem casado com Carla e fielmente não cede ao charme da bela estudante. 

Há também Harry Rex, advogado e muito amigo de Jake, o xerife Ozzie Walls, que é negro e apesar de ser testemunha de acusação de Carl Lee, é seu grande amigo.

O livro levanta muitas questões, como o racismo, a violência, a pena de morte, a corrupção no meio jurídico. Mas em minha opinião a grande questão é, afinal, o quão a moral e a justiça são próximas? Se é que é possível existir essa proximidade. Da forma como o crime foi cometido, Carl Lee deveria ser condenado, pois infringiu a lei, independente dos motivos que o levaram a fazê-lo. Porém, ao mesmo tempo, ele tomou uma atitude que provavelmente muitos pais fariam igual.Complicado, não é? É o tipo de livro no qual você se vê obrigado a refletir sobre o que faria se estivesse em seu lugar, ou, se você estivesse no júri, o consideraria culpado ou inocente? E se ao invés de um negro que matou dois brancos, fosse o contrário - um branco matando dois negros - o que pensaria sobre isso?

Independente de qualquer questão, o livro é de leitura fácil e gostosa, e pra quem se interessa por Direito, é também uma forma de aprender um pouco sobre o sistema jurídico americano, pois Grisham explica muito bem como funcionam as coisas por lá. E pra aqueles que entendem sobre o Direito Brasileiro, é interessante pra fazer uma comparação entre os dois sistemas. E mesmo pra quem não gosta do tema, o livro não deixa de ser muito bom. 



Até a próxima :)
 

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Jogo do Anjo - Carlos Ruiz Zafón

  • Editora: Suma de Letras
  • Autor: CARLOS RUIZ ZAFON
  • Ano: 2008
  • Número de páginas: 416 
 Sinopse: Aos 28 anos, desiludido no amor e na vida profissional e gravemente doente, o escritor David vive sozinho num casarão em ruínas. É quando surge em sua vida Andreas Corelli, um estrangeiro que se diz editor de livros. Sua origem exata é um mistério, mas sua fala é suave e sedutora. Ele promete a David muito dinheiro e sua simples aparição parece devolver a saúde ao escritor. Contudo, o que ele pede em troca não é pouco. E o preço real dessa encomenda é o que David precisará descobrir.
Em O Jogo do Anjo, o catalão Carlos Ruiz Zafón explora novamente a Barcelona do início do século XX, cenário de seu grande êxito internacional A Sombra do Vento, que vendeu mais de 10 milhões de exemplares em todo o mundo. Lançado este ano na Espanha, O Jogo do Anjo já ultrapassou a marca de um milhão de exemplares vendidos.


Este livro passou bons meses guardado no fundo de minha gaveta, esquecido. Minha amiga tinha me emprestado pra ler, e como na época eu estava sem tempo (grande novidade!) acabei deixando guardado por acredito que quase um ano. Só fui me lembrar dele quando fui mudar meus livros de lugar.

Antes de começar a ler eu não fazia menor ideia do que exatamente o livro tratava. De início pensei se tratar de um daqueles dramalhões, bem tristes mesmo. Engano meu.  O livro mistura drama, amizade, romance, suspense e muito, mas muito mistério. Apesar de não ser um livro com objetivo de "dar medo", acreditem, em alguns momentos eu cheguei a roer as unhas e até me assustar. Ele é, em certas partes, extremamente TENSO. Em outras partes, no entanto, é um livro cativamente. 

Somos levados à uma viagem pela Barcelona do século 20 e apresentados a personagens apaixonantes, carismáticos e muito bem construídos. David Martin, o protagonista, Cristina, a mulher que ele amou desde jovem, Isabela, que depois de muita insistência se tornou sua assistente e melhor amiga, Daniel Sempere e seu filho,donos de uma livraria, que acompanharam David e sua paixão por livros desde pequeno, e Andreas Corelli, um editor que convida David a escrever um livro pra ele, e dá início a todos os mistérios que envolvem a história. Esses são alguns dos principais personagens de "O Jogo do Anjo".

Sabe aquele livro que você começa e não consegue parar de ler até chegar ao fim? É o tipo de leitura viciante. Carlos Ruiz Zafón sabe definitivamente como prender um leitor.  

O que mais gostei do livro todo foi a relação de David e Isabela. A amizade que foi surgindo entre os dois era muito bonita de se ver. E engraçada também em alguns momentos. Um tirava sarro da cara do outro e o que não faltava eram ironias em suas conversas. Muitos conflitos existiram entre os dois também, mas a amizade sempre prevaleceu. 

Os meus personagens prediletos são sem dúvida Isabela e Daniel Sempere. Não gostei muito de Cristina, mas não sei bem por que.

Seria um livro perfeito se não fosse pelo final: passei o tempo todo ansiosa pra saber o desfecho da história, para entender todos os mistérios e quando esse momento chegou não entendi quase nada. O final é meio vago e muita coisa fica sem explicação, infelizmente. É como se o autor tivesse se perdido no meio de seu próprio enredo e já não soubesse mais como dar um fim satisfatório. 

O livro soa um pouco como sobrenatural em alguns momentos, e pra algumas pessoas essa pode ser a explicação pra muito do que aconteceu, mas não me agrada essa teoria. Independente disso, Carlos Ruiz Zafón me conquistou. Logo que terminei de ler já providenciei a compra de seu outro livro "A Sombra do Vento" (que na verdade deveria ter sido lido antes de "O Jogo do Anjo", pois muitas coisas citadas neste também foram importantes no outro, como por exemplo "O Cemitério dos Livros Esquecidos"), mas ainda não o li. 

Gostei muito do jeito de Zafón escrever, os diálogos irônicos, os personagens, tudo é realmente de excelente qualidade. O final pode ter deixado um pouco a desejar mas ainda assim recomendo o livro.  

Até a próxima :)